quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Deus é Pentecostal




“... esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”
(Efésios 4.1-6).


Muitos se espantam quando discórdias e contendas se instalam na Igreja de Cristo. Logo duvidam que Deus esteja presente onde coisas assim acontecem. Mas a paz da igreja não é fácil, nem natural; pois onde quer que relações humanas se estabeleçam, há que se esperar que haja conflitos, quanto mais na igreja, onde Deus decidiu (sabe-se lá por que) juntar gente sem qualquer premissa de afinidade ou compatibilidade socioemocional. Deste modo, já que a paz não é fácil, a Palavra recomenda esforço; e já que não é natural que busquemos no sobrenatural forças para mantê-la.


Este poder sobrenatural que nos proporciona paz é o Espírito Santo; porque “a inclinação do Espírito é vida e paz” (Rm 8:6)


Compreendendo isso, o que se espera não é que passemos a acolher divisões no corpo de Cristo, como se fossem aceitáveis; mas que busquemos estar revestidos do poder do Espírito, para que as manifestações da nossa natureza humana não encontrem lugar entre nós, e a Paz que vem de Deus prevaleça na Igreja.


Parado atrás de um automóvel um dia desses, espantei-me com o adesivo de uma igreja evangélica que dizia: Deus é Pentecostal.


Diante daquela heresia, logo formulei uma heresia antídoto para responder àquele adesivo: Deus não é nem evangélico, que dirá pentecostal! Pensei com meus botões.


Sei o que aquele adesivo queria dizer com a expressão Pentecostal. Falava da instrumentalidade dos dons (1 Co 12), da glossolalia (línguas estranhas), das profecias e das visões; falava de uma liturgia livre; isenta de qualquer ordem, norma ou convenções (2 Co 3.17). Falava dos fenômenos sobrenaturais como evidências do Pentecostes. E nós, porque temos na Bíblia o fundamento da nossa fé, não descremos nem duvidamos de nenhum desses fenômenos. O que não queremos é que esta seja a ênfase ou a síntese da nossa relação com Deus.


Não queremos esquecer que a presença do Espírito, evidenciada pelo apóstolo Paulo no contexto geral de suas cartas (para além da carta exortativa de I Coríntios), aponta para um mover que toca o homem e a mulher numa dimensão muito mais objetiva do que subjetiva (Gl 5:22). O Espírito, no Novo Testamento, atua, essencialmente, na reconstrução do caráter, irradiando ondas de impacto sobrenatural que inundam as relações humanas de amor, tolerância e misericórdia; desaguando na maior e mais desejada consequência de todas as teofanias (manifestações visíveis de Deus entre os homens): a Paz.


Se os dons e milagres são sinais místicos e sobrenaturais, o que dizer então da incompreensível teimosia da igreja em existir em paz e unidade, quando todas as variáveis humanas envolvidas nessa experiência apontam para o desenlace e para o desencontro?


Há algo mais poderoso e extraordinário do que indivíduos que, ontem mesmo, exalavam o cheiro de uma existência corroída pelo pecado, indiferentes, orgulhosos, vaidosos, prepotentes; seduzidos por todo tipo de soberba, egoísmo, individualismo e maldade; e que, ao serem cheios do Espírito Santo, aprendam a servir, ouvir, compreender, cuidar, perdoar, arrepender-se, amar, submeter-se, calar, dar, abrir mão, repartir, acolher e, independentemente de toda e qualquer injustiça, permanecem bons, conservando os corações puros?


Não há fogo mais tremendo do que o que queima a soberba do coração humano, nem línguas mais poderosas do que as que tornam possível a gente se entender e permanecer unidos, ainda que sejamos dos lugares mais diferentes (At 2.9-10).


Assim devemos ser, pentecostais. Mas de um Pentecostes (At 2) cuja evidência, por mais contraditório que pareça, nos leve a falar a mesma língua e ter o mesmo pensamento (Fp 2). Pois quando as línguas não se compreendem, não é Pentecostes, é Babel: “porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela” (Gn 11.9).


Se for assim, para manutenção da Paz, concordo com o adesivo do carro. Deus é Pentecostal.


Em Cristo, aquele cuja a graça é multiforme e não pode ser privatizada por segmento algum.

Fabio