quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

S OU Ç

Tá legal, a Marlene Matheus foi a primeira mulher presidente de um grande clube, o Corínthians; mas não conta, porque foi apenas um jogo político para que o Vicente Matheus continuasse no poder, uma vez que após já ter exercido 2 mandatos, não poderia assumir um terceiro.

Vicente Matheus foi o mais emblemático e folclórico presidente do Corínthians, dizem que ele mandou fazer um cheque de 60 mil cruzeiros para pagar uma dívida do clube, mas o tesoureiro perguntou se 60 se escrevia com S ou Ç. Vicente pensou e decidiu: "Faça dois cheques de Cr$30,00.

Certa vez perguntaram se o Sócrates seria vendido ou emprestado e Vicente foi taxativo: "O Sócrates é invendável e imprestável."

Verdade ou mentira não sei, mas reafirmo que Patrícia Amorim é a primeira presidente de um clube de futebol eleita democraticamente para ser presidente de fato e de direito.

CCM

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O EVANGELHO EM VERMELHO E PRETO


Como diria o apresentador Milton Neves: "o futebol é apenas a coisa mais importante dentre as menos importantes". Mas os últimos dias fizeram do futebol um tema de relevância nacional. E isto nada tem a ver com minha arrogância flamenga de hexacampeão. Como rubro-negro saudável (saudável sim, porque torcedor doente é o da torcida arco-iris, normal é ser rubro-negro), quero destacar duas coisas formidáveis que o Hexacampeonato brasileiro do Clube de Regatas do Flamengo proporcionou à sociedade brasileira como um todo e não apenas aos mais de 35 milhões de brasileiros rubro-negros. Quero tentar narrar aqui os dois mais belos gols do Flamengo nesta temporada:


PRIMEIRO GOL

Pela primeira vez temos no comando de um time campeão da primeira divisão do futebol mais importante do mundo um legítimo representante da raça negra. Isto é formidável. Não só pelo fato em si, mas pela denúncia expressa pelo próprio Andrade, ao dizer esperar que sua conquista possa abrir as portas para que técnicos negros dirijam times da primeira divisão.


Não, Andrade não está sendo histérico. Tampouco está se baseando apenas na observação incontestável de que, apesar da grande maioria dos jogadores de futebol serem negros, dentre os técnicos da elite do futebol eles são quase nenhum. Dentre os dirigentes de futebol, nenhum.


Andrade fala como quem sentiu na pele a discriminação de ter sido chamado de urubu por um dirigente do Flamengo, logo que foi anunciada sua contratação para auxiliar técnico ao lado do companheiro Adílio.

Fala do lugar de quem já viu sua efetivação como técnico ser negada pelo argumento de que um negro com problemas de dicção não pode dirigir o maior clube do Brasil.


Fala com a autoridade de quem foi usado por técnicos efetivos para ficar parado sob o sol como barreira, em treinamentos de cobrança falta. Ele que, enquanto jogador, conquistou os maiores títulos da história do flamengo (mundial de clubes, libertadores, quatro campeonatos brasileiros, entre outros).


Andrade é a cara do Brasil, é a cara da simplicidade, a cara do evangelho de Jesus de onde, na verdade, ele retira sua inspiração: "os humilhados serão exaltados".


Ontem Andrade foi eleito o melhor técnico do Brasil !!!!!!!!!!!!!!


links:

http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Flamengo/0,,MUL1406909-9865,00.html

http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Flamengo/0,,MUL1406366-9865,00-ANDRADE+VENCE+PRECONCEITO+E+REVELA+LEMA+OS+HUMILHADOS+SERAO+EXALTADOS.html


SEGUNDO GOL

Pela primeira vez uma mulher irá dirigir o mais importante clube do Brasil. Patrícia Amorim, vereadora, ex-nadadora, será a presidente do Flamengo pelos próximos três anos. Ou seja. Uma das maiores paixões do homem macho brasileiro, o futebol do Flamengo, estará sob o governo de uma mulher. Quantos preconceitos, tabus e tradições futebolísticas caíram por terra nestas eleições da Gávea.



Aquele cara que disse que em Cristo não há judeu nem grego, nem servo nem livre, nem homem e nem mulher; se vivesse nestes dias, torceria pro mengão, certamente. Até imagino o Apóstolo Paulão dizendo aos demais times: "Sejam nossos imitadores..."


Hexagerei?

O DESAFIO DE VIVER E FALAR DA GRAÇA


Eu, por mais que tente disfarçar, sou ainda muito conservador no meu pensamento teológico. Trago, mesmo que relutantemente, muitos resquícios da minha formação de base legalista. Em muitos momentos não consigo discernir se estou sendo mais puritano e pietista do que simplesmente cristão.

Jamais saberei se as interpretações morais que faço do evangelho estão comprometidas pela estrutura ortodoxa da minha formação, ou se são impressões legítimas e relevantes à santidade cristã e à pureza do próprio evangelho. Ninguém é uma tábula rasa. A graça é minha meta, minha ambição, minha obsessão; mas confesso que ainda me sinto preso ao cadáver do homem forjado pela lei moral evangélica que insiste permanecer acorrentado a mim (Rm 7:24). Como disse Paulo, persigo a perfeição, deixando para trás, a cada dia, as coisas que já superei e caminhando insistentemente para a minha verdadeira vocação em Cristo Jesus, que é a plenitude do amor e da misericórdia de Deus (Fl 3:9-14).

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

PEDI, PEDI E FICARÁS ESPERANDO...


Ele me pediu para orar a fim de ajudá-lo a conseguir um emprego. Legítimo pedido. Desde que tenha feito a sua parte e esteja pedindo a Deus para fazer aquilo que não podia fazer.


Sim, porque nem sempre estar preparado é o fator mais relevante nesses casos. Às vezes é preciso um pouco de sorte. Mas sorte não é um produto do acaso; sorte, como diria Amyr Klink, é a conjunção de dois fatores: competência e oportunidade. Talvez você tenha competência, mas precisa da intervenção de Deus para prover as oportunidades, já que esta sociedade é tão desigual.


Mas se seu caso é mais ou menos assim: Você não se planejou, não se preparou, não se qualificou, não se esforçou. Mas você ORA. E um outro alguém, diferentemente de você, se planejou, se preparou, se qualificou, se esforçou. Mas não ORA.


Você acredita mesmo que Deus vai premiar sua displicência apenas porque você é crente e punir quem se portou com excelência apenas porque é incrédulo?


Se sua fé é assim eu só posso chegar a uma conclusão: você tem muita fé, mas sua cara-de-pau é maior ainda.


Na verdade, você não insiste em orar porque muito crê, você insiste em orar por saber que lhe falta legitimidade.

Pense nisso!


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ANTES DE RESPONDER



A maior parte dos textos sagrados, especialmente os neotestamentários, nasceram de três estímulos básicos: as perguntas que iam surgindo na caminhada comunitária; as acusações feitas ao judaísmo/cristianismo pelos seus opositores e, por último; as heresias que acompanharam a popularização da fé.

Podemos concluir assim que estamos diante de uma literatura basicamente apologética; ou seja, a Bíblia é uma defesa da fé.

Mal comparando, ela não é como um manual explicativo, mas apenas aquela parte final dos manuais onde aparecem soluções para alguns tipos de problemas básicos e recorrentes, mas, no caso da Bíblia, aparecem apenas as soluções, sem o enunciado dos problemas. Logo a Bíblia apesar de ser a regra básica da fé protestante, ela não esgota a revelação. A revelação plena é a Palavra encarnada em Jesus. No entanto, o próprio evangelista João afirma que muito pouco do que Jesus fez e ensinou fora registrado no texto sagrado.

Daí a necessidade de se ter prudência antes de afirmar qualquer dogma ou doutrina sobre qualquer texto que seja. Posto que a revelação sobre a qual nos debruçamos consiste basicamente em respostas cujas perguntas, na maioria das vezes, desconhecemos. As ciências da interpretação (a exegese e a hermenêutica) nos ajudam a diminuir a nossa ignorância contextual e histórica.

Outro cuidado fundamental que o teólogo/pastor deve ter é com a atualização da revelação. Se entendemos que o texto sagrado nasceu de uma necessidade pragmática da comunidade; a teologia deve se submeter ao mesmo critério. Logo, fazer teologia não se limita a interpretar o texto, mas interpretá-lo para o momento presente. Para melhor entendimento podemos estabelecer duas definições para teologia: Teologia é o estudo sobre a revelação (e não o estudo de Deus); e, Teologia é a atualização da revelação (e não apenas sua interpretação).

Por exemplo: um amigo e irmão sinalizou algumas omissões minhas no post anterior, especialmente por eu não ter citado a importância do cristianismo na luta contra a escravização dos negros. Apenas destaquei como a teologia cristã legitimou os processos de discriminação racial baseando-se em distorções de interpretação dos textos sagrados. A crítica do irmão é oportuna e bem vinda porque, certamente, meu texto pode dar uma compreensão equivocada aos que, sem acesso a alguma outra fonte, leia apenas a minha abordagem; teriam estes a impressão de que a única participação do cristianismo nos processos de escravidão tenha sido negativa. Meu olhar pessimista não abrangeu o todo. Portanto é parcial.

Minha parcialidade, entretanto, se justifica na motivação e na intenção do texto, que não tinha a pretensão de dizer sobre o papel do cristianismo nos processos da escravização dos negros, mas dizia apenas das teologias cristãs que fundamentaram os argumentos que, durante séculos, legitimaram a abominável inferiorização da raça negra em relação aos brancos.

Do mesmo modo, interpretações de textos pontuais, transformaram o apóstolo Paulo no “pai do machismo”. Para além de usarem seus textos (parciais e específicos a um contexto) para imporem um legalismo de costumes às igrejas; o que Paulo jamais incentivou. Logo Paulo, o maior teólogo da graça e da liberdade cristã.

A tentação de responder perguntas que não foram feitas e tentar interpretar a Bíblia pela Bíblia, sem olhar a relevância do tema para o momento presente, é um estímulo e tanto para as baboseiras teológicas que enchem as prateleiras evangélicas. As pessoas estão em crise de casamento e os teólogos escrevem livros sobre o juízo final; filhos estão se perdendo e fazem seminários de prosperidade. A corrupção e a miséria se propagam, e fazem correntes de cura interior; a violência arrebenta a cabeça dos inocentes pela rua, e discutem se usar piercing é pecado.

Portanto, colegas pastores e teólogos, antes de escreverem seus livros, agendarem seus congressos, convocarem suas marchas pra Jesus e apresentarem seus programas de TV; lembrem da frase mais famosa do Galinho Chicken Little:

“Qual foi a pergunta?”

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ANTES DE ME QUEIMAREM


Recebi boas críticas sobre o último post. Inclusive fui acusado de desconhecer a Bíblia quanto às informações relacionadas à migração dos filhos de Cão (ou Cam) para a África. Como se eu estivesse questionando a afirmação Bíblica. O que não é o caso.


Os que me conhecem sabem que dificilmente eu cometeria tal equívoco quanto a uma informação tão clara das Sagradas Escrituras. Então, para que não me chamem de herege, vou explicar minha indignação teológica quanto a esta informação:


Não questiono a informação de que os filhos de Cão povoaram a África. Está escrito!

Questiono, sim, a ideia de que a maldição de Noé esteja associada à cor negra da cútis africana e aos processos de escravidão que o Cristianismo avalizou.


A pele preta, segundo creio, está no DNA humano desde o Éden. Sua origem remonta o projeto original de Deus, e não uma suposta maldição posterior. E nada mais conveniente do que situar o Éden na África, para autorizar minha afirmação, vejam o link: http://www.cebi.org.br/noticia-impressao.php?noticiaId=133.


Crer diferente disso, especialmente para os fundamentalistas que me acusam de relativizar a Bíblia, seria descrer o criacionismo e submeter a teologia ao evolucionismo darwiniano. Crer que os filhos de Cão foram amaldiçoados, depois migraram para a África e depois adquiriram pele escura; seria afirmar que o homem evoluiu a partir de mutações, dependendo do ambiente onde habitou; o que não desejo descartar como hipótese; todavia os fundamentalistas que me resistem deveriam fazê-lo, para, por fim, abandonarem sua teoria “canina” como justificativa para a pele preta, a escravização e a pobreza dos africanos. É melhor admitir que produziu-se uma oportunista teologia racista.


Espero que esta breve ponderação ajude os escandalizados a me pouparem momentaneamente da fogueira; mas como não gosto de vida fácil, vou provocar outra vez:

O relato Bíblico, especialmente no Pentateuco, é uma transcrição das mais diversas tradições orais. A tradição oral pode sofrer variações de tempo, lugar e até de personagens.

Exemplos na Bíblia:


1) Temos duas tradições da criação; numa delas são criados macho e fêmea como um ato único de Deus; na outra o macho tem primazia em relação à fêmea.

2) Temos dois relatos de dilúvio. As quantidades de casais de animais salvos variam de um relato para o outro.

3) Abraão viaja duas vezes com Sara e é obrigado a mentir sobre sua relação conjugal. Os relatos são quase idênticos, não fossem as mudanças de local e personagens coadjuvantes.

4) Para o mesmo evento, narrado em Crônicas e em Samuel, Davi convoca o senso, ora instigado por Deus, ora pelo diabo; depende do escriba.

Considerando apenas os dois primeiros exemplos, poderíamos inferir que, no primeiro caso, uma sociedade patriarcal fez nascer um relato androcêntrico da criação, enquanto um relato mais popular não diferencia macho e fêmea no ato criador.


Do mesmo modo, uma tradição mais primitiva não distinguiria os animais em categorias de pureza para colocá-los na arca, esta consideração se aproxima bem mais das tradições sacerdotais posteriores. Vejamos que a lei que nomeia os animais como imundos ou puros é posterior ao êxodo, como este critério poderia ter estado presente no evento do dilúvio?


Admitindo que o relato escrito dista algumas centenas de anos do evento original, poderíamos assumir, com honestidade, que elementos da cultura e da sociedade do tempo onde o texto nasce, poderiam determinar adaptações ao evento original? Possivelmente.


Daí a opção de muitos teólogos de entender os relatos da pré-história bíblica (antes da formação de Israel como nação) como mitológicos; não porque sejam eventos fictícios, mas por serem relatos da interpretação socio-teológica do evento real, e não o evento histórico em si. (Existem, pelo menos, três possíveis tradições que explicariam as variações do texto do pentateuco: a Heloista, a Javista e a Sacerdotal).


Onde eu quero chegar?


Tudo que fiz até agora foi fundamentar a “heresia” pela qual os senhores me lançarão, sem piedade, na fogueira inquisitória do vosso evangelho “amoroso”, mas devagar com o fogo, deixa eu terminar...


Quando lemos a Bíblia, ingenuamente somos levados a crer que o texto é simultâneo ao evento (esta ingenuidade é uma dádiva e uma bênção bem-vinda para quem deseja ler com espiritualmente, mas perigosa para quem quer fazer teologia); a verdade é que, na maioria das vezes, o texto nasce para narrar eventos passados como tentativa de responder a demandas presentes. Por isso os eventos passados tendem a serem vestidos com roupas do momento presente, e por isso tornam-se mitológicos (eis a melhor definição que já ouvi sobre mito: “é uma verdade vestida com muitas roupas”).


Portanto, a ocupação dos continentes não se explica a partir do texto que diz para onde foram os filhos de Cão, de Cem ou Jafé; o texto é quem surge, posteriormente, para responder ao fato. Ou seja, quando o texto nasceu Israel já havia passado pela escravidão na África, e já enfrentava resistência dos povos árabes, mesopotâmios e dos hititas/europeus, entre outros; e não é de se admirar que, nos textos fabulosos das genealogias dos povos, Israel descende sempre daqueles sobre quem recaem as promessas de prosperidade e dominação, enquanto sobre os demais recaem as maldições e a submissão.


Me parece conveniente, se eu fosse hebreu e redator a Bíblia, que me apegasse a profecias/maldições que afirmassem que africanos, árabes, babilônicos e todos os meus inimigos históricos, devam se submeter a mim, simplesmente porque em algum lugar no passado, alguma profecia determinou o futuro dessa gente por toda era dos homens.


O problema é que, em algum momento, homens perversos, que nada tem a ver com a minha história sagrada, escravizariam os africanos e lançariam mão do meu livro sagrado, para justificar seus atos desumanos, e chamariam isso de teologia.


Eu digo que é uma interpretação racista, cínica e demoníaca. E reafirmo, contra todo dogma que tentar me silenciar. Se em algum lugar está escrito na Bíblia que a pobreza, a miséria e a escravidão de um ser humano é determinação divina, então o deus que determinou isto não é o Deus que se revelou a mim através de Jesus.


Tenho dito.

Agora podem acender a fogueira.


Fabio Castro

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DONCOVIM?


“Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (Lc 9:54-56).

Minha avó materna, mineira e batista, foi quem jogou as primeiras sementes do evangelho em meu coraçãozinho pequenino ainda. A semente era batista, mas foi regada por águas pentecostais, cresceu em terras neopentecostais, reenxertou-se aos batistas no seminário teológico; depois aos metodistas, na faculdade de teologia; e por fim, floresceu presbiteriana, na IPJ.

Aqui estou eu, um mosaico evangélico. Apesar dos poucos 34 anos (é, eu não tenho 25 como você pensava) essa andança me oportunizou ler e ouvir as mais diversas mentes teológicas falando de Deus e em nome de Deus. Algumas coisas me alimentam a alma até hoje. Outras, eu bem que gostaria de vomitar pra sempre da minha lembrança; mas não só, gostaria mesmo era de pedir a Deus que mandasse fogo do céu para queimar certos autores junto com suas obras.

Não precisa me condenar pela intolerância, Jesus já fez isso nos versos citados acima. Na verdade Ele falava para Tiago e João, mas confesso que volta e meia me percebo no mesmo barquinho que os filhos do trovão. O barquinho dos sem-noção, que acham que Deus pensa como a gente pensa.

Um exemplo das coisas que desejo esquecer:

Já vi gente dizendo que os negros são originários de Caim. Sua cor seria a marca que Deus lançara sobre o filho de Adão para identificá-lo como o assassino de seu irmão Abel.

Como menino curioso, perguntei à tia da EBD, que me ensinava essa lição: “Mas se Noé e sua família eram descendentes de Sete, e não de Caim, como os negros sobreviveram ao dilúvio?” Ela me respondeu que isso fazia parte de uma outra história.

Então descobri um autor a dizer que os negros eram a descendência de Cão, o filho que foi amaldiçoado com servidão e humilhação por “abusar” da nudez do seu pai Noé. Ele, inclusive, se ocupou em demonstrar teorias migratórias, para provar que os filhos de Cão habitaram o continente africano. Quase acreditei, mas continuei “boladão” (é como adolescentes se sentem; adultos ficam apenas confusos). Minha dúvida persistia, porque não encontrei a resposta para a origem teológica dos olhos puxados dos japoneses, da pele vermelha dos índios, dos olhos azuis dos saxões e da pele morena dos polinésios. A teologia nunca se preocupou em encontrar uma maldição para explicar essas questões. Hoje quase chego à conclusão de que o teólogo que li devia, ele sim, ser filho de Cão, ou do Cão.

Fui percebendo que os teólogos adoram usar o nome de Deus para respaldar seus moralismos, sexismos, racismos, e todos os ismos preconceituosos que a sociedade construiu. Então deixei de procurar na Bíblia uma explicação para a cor da pele dos negros. Resolvi perguntar aos teólogos uma nova questão: “Onde está escrito que Deus criou o homem com pele branca? Não poderia ter sido Adão um belo negão?”

Bem, já deixei de ser adolescente há muito tempo, e ainda não achei na Bíblia de onde vieram os branquelos como eu. Como diriam os mineirinhos da terra de minha saudosa avó: doncovim, oncotô, proncovô?


Em Cristo, a origem, a razão e o destino de todos os homens e de todas as cores.

Fabio Castro

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

OS ICONOCLASTAS


Durante o tempo em que esteve exilado (sequestrado e escondido por Frederico, o Sábio), Lutero traduziu o Novo testamento (em 2 anos) e o velho testamento (em outros 10 anos). Corria a notícia de que ele havia morrido. Mas ele manteve contato escrevendo algumas vezes a alguns dos seus mais fiéis colaboradores, Carlstadt e Felipe Melanchthon.

Na ausência de Lutero, estes dois foram os principais condutores da obra protestante. O próprio Lutero era tão temente a Deus que hesitou em por em prática muitas de suas próprias ideias. Mas especialmente Melanchthon, preservava um temperamento muito diferente de seu mentor. Foi durante o exílio de Lutero que muitos monges e freiras deixaram os conventos e casaram-se. O culto foi simplificado e passou a ser celebrado em alemão, não mais em Latim. E Melanchthon ministrou a ceia com os dois elementos (pão e vinho) sendo oferecidos aos leigos.

Lutero, no início, via com bons olhos todas essas mudanças, mas quando Carlstadt e seus seguidores começaram a derrubar as imagens, Lutero recomendou moderação, e não demorou a abandonar o exílio, arriscando a própria vida, a fim de retomar o controle do movimento e conter seus amigos iconoclastas

Lutero era favorável às imagens e à mediação dos santos? Sim e não.

Na verdade, a teologia Luterana não só se opunha às indulgências e à penitência, como também desmontava a base teológica do culto às imagens e da mediação feita pelos santos ou mesmo pelo sacerdote, uma vez que cada cristão, na perspectiva luterana, mantém uma relação direta com Deus através apenas de Cristo. Configurava-se assim a doutrina do "sacerdócio universal de todos os santos".

Todavia Lutero era, sim, favorável a iconografia. A mensagem comunicada pelos ícones (imagens). Para ele a igreja não deveria perder a referência do exemplo de vida dos santos do passado e, por isso, o que deveria se abolir não eram as imagens, mas o papel mediador conferido a elas.

Vale lembrar que as posições teológicas de Lutero nem sempre foram as mesmas. No início ele chegou a afirmar que a Epístola de Tiago era palha e merecia ser queimada. Na 16a tese, por exemplo, ele se alinha à existência do purgatório, teologia que depois seria revista por ele mesmo. Na 58a tese, Lutero ratifica os méritos dos santos como capazes de operar salvação. Lutero reformula estes pensamentos muito tempo depois.

A construção teológica do protestantismo foi e é um devir. Não uma suma absoluta. Portanto é preciso compreender a processual mudança e amadurecimento da consciência do próprio Lutero, assim como de todos os teólogos protestantes.

É impossível, hoje, saber o que, de fato, foi obra de Lutero ou dos luteranos. Assim como seria leviano afirmar que os absurdos históricos do cristianismo sejam obras de Cristo.

Fato é que, como afirmou Justo Gonzalez, durante muito tempo Lutero foi, para alguns, "o bicho-papão que destruiu a unidade da igreja, a besta selvagem que pisou na vinha do Senhor, um monge renegado que se dedicou a destruir as bases da vida monástica. Para outros, ele é o grande herói que fez voltar, uma vez mais, a pregação do evangelho puro, o campeão da fé bíblica, o reformador de uma igreja corrompida".

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. As coisas estão mais equilibradas. Poucos hoje duvidam da sinceridade de Lutero, afirma Gonzalez. Muitos católicos afirmam que o protesto do monge agostiniano foi justificável; do mesmo modo, os teólogos protestantes já não persistem em pintar Lutero como um "herói sobre-humano que reformou o cristianismo por si só e cujos pecados e erros foram de menor importância".

Lutero foi apenas um homem do seu tempo. Viveu como um homem, errou como um homem, se contradisse como um homem. Mas foi fiel e radical em viver tudo aquilo em que de fato acreditava, mesmo que tivesse que se retratar depois.

Sola Gratia, Sola Fidei, Solus Cristos, Sola Scriptura.
Amém


O JAVALI SELVAGEM


"A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso do meu nome e não se chamem “luteranas”, mas “cristãs”. Quem é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. ... Como eu, miserável saco fétido de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome?" (Martinho Lutero - Timothy George. Teologia dos Reformadores - p. 55).

Lutero era um homem angustiado pelo medo do inferno. Temia a justiça de Deus, por se sentir o pior dos pecadores. Confessava-se várias vezes ao dia. Em certas situações, retornava ao confessionário antes mesmo que tivesse chegado à sua cela, depois de ter acabado de sair da última confissão. Temia ter esquecido algum pecado. Penitenciava-se e castigava o próprio corpo a fim de punir-se pelos erros tantos, mesmo os que sequer lembrava ter cometido. A justiça Divina lhe parecia tão implacável que ele chegou a se declarar incapaz de entender o amor de Deus, posto que, na verdade, sentia ódio de Deus.


Quando “descobriu” o texto de Romanos 1:17, Lutero foi iluminado pela consciência da Graça e da Justiça que vem apenas por meio da fé em Jesus, jamais das obras.


Desta sua nova consciência nasceu a crise que o levaria, mais tarde, a provocar a ira do Papa, para quem Lutero se tornou o “javali selvagem que pisoteou a vinha do Senhor”.


Enviado para Wittenberg, a fim de lecionar sobre as Sagradas Escrituras, Lutero logo se tornou o principal teólogo daquela cidade. A maioria dos padres, alunos e nobres de Wittenberg acolhiam suas idéias. Lutero já havia publicado muitos textos, inclusive outras teses sobre as indulgências, antes do famoso dia 31 de outubro. Por isso, ele jamais imaginou que as suas 95 teses pudessem resultar em tudo que já sabemos. Até porque, a última coisa que Lutero pretendia era se levantar contra a igreja que tanto amava.


Lutero era um filho apaixonado da igreja. Apesar das suas discordâncias teológicas, ele jamais questionou o caráter divino da noiva de Cristo, a Linda Donzela, como ele a chamava. Seus escritos revelam todo medo e preocupação que teve ao longo do processo de sua excomunhão. Temia estar sendo irreverente às autoridades constituídas por Deus. Foi por isso que, quando interpelado pelo sacro-imperador Carlos V, ele titubeou e pediu um tempo para pensar a resposta que daria.


É preciso esclarecer que a indignação de Lutero com a venda de indulgências se acentuou porque, naquele momento, o Papa Leão X, havia autorizado Alberto de Brandenburgo a vender tais documentos para levantar o montante de 10.000 ducados, que seriam investidos na construção da basílica de S. Pedro, no Vaticano.


O Clã dos Brandenburgo, já dominava algumas dioceses na Alemanha, mas desejava outras, para consolidar sua hegemonia no arcebispado germânico. O Papa consentiu, mas em troca exigiu os tais ducados. Diz a história que quando o vendedor de indulgências marchou em direção a Wittenberg, Lutero pintou uma faixa branca no chão, à entrada da cidade, e afirmou que Tetzel não passaria por aquela linha e jamais entraria lá. (Wittenberg preserva no seu acesso principal a dita cuja faixa pintada no chão).


Após ter sido intimado muitas vezes a retratar-se das coisas que escreveu, Lutero permanecia firme em suas posições. Para que não morresse, chegou a ser seqüestrado e escondido durante anos, por um príncipe alemão. Como as ordens de silenciar-se não eram acatadas por Lutero, o papa emitiu uma bula onde o excomungava e ordenava a queima de suas obras. Mas foi Lutero quem, ao receber tal documento, queimou-o em praça pública, decretando sua ruptura definitiva com a autoridade de Roma.


Pouco depois de romper com o papa, Lutero foi chamado para se retratar, agora diante do imperador. Havendo pensado durante dois dias, ele se apresentou ao tribunal imperial e reafirmou tudo que escrevera e dissera, concluindo sua defesa com a famosa frase: “Não quero nem posso retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é justo nem seguro. Que Deus me ajude. Amém”.


Durante algum tempo os príncipes católicos e os futuros príncipes protestantes costuraram alguns acordos de tolerância religiosa, até que uma dieta do império proibiu o culto independente dos feudos “Luteranos”. Os príncipes alemães então formalizaram um documento chamado “O Protesto”. E firmaram posição ao lado de Lutero. A força da nobreza alemã garantiu a marcha do cristianismo reformado; e estes novos cristãos passaram então a serem chamados de “os protestantes”.

O HALLOWEEN E A REFORMA


Dia 31 é o dia comemorativo da reforma protestante. A data remonta o dia em que o monge agostiniano Martinho Lutero fixou suas 95 teses contra as indulgências na porta da paróquia do castelo de Wittemberg, na Alemanha. Era o dia 31 de Outubro de 1517.


Não foi por acaso a escolha desta data.


Dia 1º de novembro é dia de todos os santos e dia 2 de novembro, dia de finados. Também não é coincidência que o Halloween seja comemorado no mesmo dia da reforma.


Ambas as datas foram motivadas pela crença (especialmente celta) de que, na passagem do dia 31 de outubro para o dia 1º de novembro, abria-se a passagem que comunicava o mundo dos vivos com o mundo dos mortos. Era o solstício do inverno europeu. Um tempo de dias sombrios, onde as mortes se multiplicavam devido ao impiedoso frio.


No caso do Halloween, parte da tradição se explica nos rituais antigos de culto aos mortos. As lendas celtas diziam que quando a passagem do mundo dos mortos se abria, os mortos vinham ara arrastar os vivos para o seu mundo. Então os vivos usavam de três artifícios para enganar, ou agradar os mortos. Um deles era vestirem-se de mortos, para se fazerem passar por um deles e não serem ceifados (daí a tradição das fantasias); o outro era oferecer banquetes aos mortos; mesas fartas eram postas nas casas, que ficavam abertas para os mortos entrarem e se saciarem dos manjares oferecidos (donde vem o “doce ou travessura”); por último, preparavam lanternas feitas de cabaças, para que os mortos pudessem iluminar o caminho e retornar ao seu próprio mundo (daí as abóboras iluminadas).


Já no caso da reforma, a venda de indulgências (documentos assinados pelo papa, que conferiam o perdão de pecados a quem os comprasse; e era poderoso até para retirar as almas do purgatório) alcançava o seu apogeu durante o solstício de inverso, pois em nenhuma outra data do ano a memória dos entes-queridos mortos estava tão presente. Jonh Tetzel, o vendedor dos tais papéis, dizia: “Ao tilintar da moeda no fundo do cofre, uma alma sairá do purgatório”. Chegou ao absurdo de afirmar que a cruz do vendedor de indulgências tinha tanto poder quanto a Cruz de Cristo e que quem comprasse uma indulgência seria mais puro do que quando saíra do batismo, ou mais do que Adão antes do pecado.


Era como vender chocolate na páscoa e brinquedo no dia das crianças. Mole-mole.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"EXTRA MUNDI NULLA SALUS"


A pergunta foi: Haverá salvação fora da igreja evangélica?
Então vai a primeira resposta, outras virão.
Na verdade esta não é minha, pequei emprestada do meu xará Caio Fabio.

"Responda que há salvação até na igreja Evangélica, apesar de todas as suas absurdas e igualmente idolátricas e pagãs variáveis de pratica religiosa; em nada melhores que a igreja católica. Nunca evangelize “igreja”. A “igreja” não é a mensagem, é apenas um dos “meios”. Mas Deus é livre! A “igreja” não é uma Boa Nova para quem ainda não está em estado vegetativo. Mas Jesus é Vida pra qualquer ser humano! A salvação só está em Jesus. E Joel, reforçado por Pedro no dia de Pentecoste, nos diz que o Espírito se derrama sobre “toda carne”—inclusive, diz Deus:”...até sobre os meus servos e sobre as minhas servas...”. Bem, nós os que nos dizemos “os servos” estamos entre aqueles acerca dos quais Deus diz “até sobre...” Portanto, é para não se gloriar; afinal, não há de quê. Um beijão, Caio"

JESUS NO BAILE À FANTASIA


A pista estava bombando. A festa era à fantasia. Brancas de Neve, super-heróis, enfermeiras, piratas, sultões, bandidos mascarados e dragqueens se espalhavam pelo salão. Corpos sensuais agitando-se madrugada a dentro em busca de alguns instantes de prazer. Uma alegria que parece nascer do batidão do funk que treme o chão, das aventuras amorosas ilícitas, ou dos goles de vodka com limão.

As fantasias parecem mais revelar do que esconder; manifestam os desejos reprimidos das almas de cada um. Não precisam se esconder e nem se envergonhar dos pecados que fazem, pois, apesar de vestirem personagens diferentes, sabem que, suas vidas, são todas iguais. Quando o sol nascer, tudo voltará ao seu devido lugar. Nem máscaras, nem música, nem mágica.

Do outro lado do quarteirão os crentes oram. Uniformizados em seus ternos monocromáticos e nos vestidos longos beges e azuis. Tocam músicas que falam de Jesus. É como uma festa, mas chamam de culto, vigília, ou consagração...

Jesus caminha pela noite buscando um lugar onde possa pousar. Passando pelo primeiro salão ouve a música barulhenta e resolve entrar. Logo observa todas aquelas vidas bailando sob as luzes prateadas. Olhando os rostos mascarados percebe que a fumaça esconde todo tipo de sofrimento, solidão, tristeza e vazio. Constata que, por mais que tentem, não conseguem deixar de tropeçar, como quem anda de olhos vendados em meio a um vale pedregoso. Ele se compadece, mas resolve seguir o seu caminho.

Adiante ouve outra música barulhenta. Resolve entrar e leva um baita susto. Regressa à calçada e confere o letreiro da fachada. Sim! Era mesmo uma igreja; e tornou a entrar.

Ele se espantou porque descobriu que no culto também vestem fantasias. Os rostos trazem máscaras, as mais diversas. Por detrás das máscaras ele contempla casamentos fracassados, inveja, falsidade, amargura, fofoca, pornografia, adultério, mentira, etc.

Os ministros são tão hábeis quanto o DJ do baile à fantasia. Não podem deixar o ritmo da euforia ser interrompido. Precisam manter produção de endorfina, dopamina e noradrenalina em altas doses, capazes de superar as goladas de vodka gaseificada com limão e redbull.

Eles estavam tão entretidos quando Jesus entrou, que nem perceberam sua presença. Então ele foi ao palco e pediu a palavra, mas o ministro de música não lhe concedeu o microfone; e, quando conseguiu falar, Jesus não foi muito simpático (Não vou repetir o que ele disse, mas o evangelista Mateus registrou a conversa, lá no capítulo 23). Preferiu ir embora, pois torceram o nariz para ele.

Seguindo o som da música voltou ao lugar da primeira festa. Logo espalharam a notícia de que Jesus estava presente. E ele foi tratado como convidado de honra. Todos se admiravam da sua improvável e surpreendente presença, que foi alardeada pelos auto-falantes do salão. Quando ele pediu a palavra, todos fizeram silêncio, assentaram-se ao seu redor e ele contou apenas três histórias. Não vou repetí-las aqui, pois o evangelista Lucas registrou tudinho, lá no capítulo 15.

E Jesus preferiu passar a noite no baile à fantasia. Máscara por máscara, melhor aquelas que não mentem.


Fabio Castro
28/09/2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

DEIXE DEUS SER DEUS


Será que você também já não tentou ensinar Deus a governar sua existência?
"Deixe Deus ser Deus" (Martinho Lutero, séc XVI)

APRISCOS SEM PASTORES




Como se faz um pastor?
Cada denominação evangélica tem seus próprios critérios. Alguns mais rígidos, outros, nem tanto. Certos pastores se auto proclamam assim, convencidos de sua vocação, e afim de abrir a sua própria igrejinha (no bom sentido, por favor). O movimento pentecostal e neo-pentecostal, nem sempre condiciona a ordenação de seus pastores a avaliações acadêmico-teológicas, ao contrário do movimento protestante histórico, que preserva um grau de exigência razoável sobre a formação e o preparo intelectual do candidato ao ministério pastoral.

A não-formação acadêmica de muitos pastores, não tem a ver apenas com a explosão evangélica das últimas duas décadas, ou com a má fé dos lobos que se travestem de pastores para arrancar das pobres viúvas até as moedas que elas já não tem. Existe um elemento histórico por detrás deste processo.

A Eclesiologia brasileira é predominantemente um produto norte-americano. E a expansão evangélica tupiniquim em muito se assemelha às orígens do protestantismo ianque. Na América, na medida em que os comboios colonizadores adentravam o continente rumo ao oeste, iam surgindo pequenas comunidades de famílias protestantes que passavam a demandar a organização de igrejas e, consequentemente, a ordenação de pastores. Acontece que era impossível que o envio de pastores formados nos seminários europeus fosse capaz de atender a esta demanda.

Logo foram surgindo igrejas cujos líderes tinham a ordenação e autoridade legitimadas pela própria comunidade que os gestava. Este processo fez nascer também uma eclesiologia e uma liturgia mais independentes das matrizes protestantes europeias.

Esta relativa autonomia teológica e litúrgica acabou gerando um ambiente extremamente propício ao "avivamento" pentecostal ocorrido no final do século XIX e início do século XX naquele país.

Voltando ao Brasil: O caminho é parecido (e ao mesmo tempo diferente). Esta quebra de critérios e a ruptura com o academicismo teve outras motivações cá debaixo da linha do equador. Se lá, no país que nos coloniz... (ops!), nos evangelizou, a "des-formação" pastoral se deu pela urgência e pela crescente demanda de igrejas emergentes; aqui a legitimação da informalidade pastoral baseou-se na afirmação teológica da suprema autoridade da unção divina sobre qualquer preparo "humano", ou seja, acadêmico.

Claro que a academia não faz um pastor, pois é da vocação pastoral que o ministro seja conhecedor dos mistérios de Cristo e não se valha da sabedoria humana para conduzir o povo de Deus. Longe de mim querer anular o mistério e desautorizar quem quer que seja que tenha sido levantado pelas mãos do Altíssimo. Mas não posso fechar os olhos para o que aí está.

Lá,na América, as ovelhas clamavam por pastores, e legitimavam aqueles que a elas serviam como tal. Aqui, produz-se os pastores para que produzam ovelhas, e atinjam as metas e projetos expansionistas das mais diversas denominações.

Sendo assim, apesar da produção em atacado de pastores, bispos, apóstolos, vice-deuses, etc; o que temos é uma grande multidão cansada e aflita, como ovelhas que, na prática, não têm pastor. Isso porque o povo é tratado como gado, como massa, como número e estatística. Temos "pastores de rebanho, mas não pastores de ovelhas" (essa frase não é minha, mas queria que fosse).

Beira ao constrangimento a admiração das pessoas quando a elas é dada a oportunidade de falarem dos seus problemas e serem (em vez de reprogramadas pelos jargões e pelas respostas prontas das cartilhas de auto-ajuda evangélicas) simplesmente ouvidas, acolhidas, compreendidas e cuidadas, na singularidade do seus dramas. Parece até que pregamos, cá pela nossa comunidade, um outro evangelho, um outro Cristo, uma outra graça. Mas que não é outra, é so o evangelho.

Para por um fim neste meu histerismo indignado, desejo pontuar apenas três coisas, caso você se interesse por ler este blog:

1. Sou do evangelho, mas sinceramente, não sou evangélico;

2. Sou presbiteriano, mas Cristo, o único a quem sirvo e pretendo me manter fiel, não é;

3. Não sou frustrado, recalcado, ou ressentido. Mas se eu destilar alguma amargura por aqui, é pra tentar preservar a pureza do meu coração e dizer a mim mesmo que não fui vencido.

Bem vindo ao aprisco.
Fabio Castro

UM NOVO DEUS NO PEDAÇO

Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. (Rm 1:25)


“Não somos deste mundo!”. Esta afirmação, durante muitos anos, foi a frase predileta dos crentes. Com ela se justificava não só a abstnência evangélica a todo tipo de prazer “mundano”, como também o desapreço à cultura, à política e, em alguns casos, até à formação acadêmica. Ser crente era, sobretudo, desapegar-se da materialidade e romper com o mundo, em todos os sentidos.


Evidente que era um tempo de muito legalismo, tudo era proibido: música, dança, praia, futebol, short, maquiagem, festa, ou qualquer coisa que não fosse genuinamente feito em nome de Jesus. Vaidade era o pecado mais execrado nos sermões evangélicos; afinal de contas, tudo era vaidade.


Vide a música cristã. Nem todo ritmo e nem todo instrumento podia ser usado no culto; do solo de guitarra ao ritmo da bateria, quase tudo era do diabo, ainda que o mundo e sua plenitude fossem, desde sempre, criações de Deus.


Exageros à parte, aquele tempo legalista, com aquela música simples (as vezes de quinta categoria) vem despertando muita saudade em quem viveu o evangelho pré anos oitenta.


Começa a surgir uma crise protestante no Brasil. Esta crise de sentidos que ecoa nos arraiais evangélicos não parece ter tanto há ver com as mais diversas formas de expressão da igreja contemporânea; a discussão pesa, sobretudo, sobre o conteúdo. Lamenta-se, não pela invasão das guitarras, baterias, piercings, pranchas de surf e companhia limitada; lamenta-se predominantemente pela deturparção dos valores, da teologia e da própria consciência sobre Deus.


E, se existe, dentre todas as expressões do culto cristão, uma que mais transpareça esta subversão de valores, ela é, sem dúvida alguma, a adoração.


Diz-se que a teologia de uma igreja é conhecida por aquilo que ela canta, muito mais do que por aquilo que ela prega. Isto porque a forma individual com que um crente se relaciona com Deus é manifesta, inequivocadamente na sua expressão de adoração. Ali, na adoração, denuncia-se as intenções do coração.


Neste sentido, a música na igreja contemprorânea lamentavelmente revela com precisão o câncer materialista, individualista, egoista e utilitarista que se abateu sobre a mensagem evangélica desde a chegada da teologia da prosperidade no início da década de oitenta.


Percebe-se que o deus presente na adoração cristã não é mais o “Pai Nosso”, da oração que Jesus ensinou. Hoje cultua-se ao “Meu Pai”. Nasceu uma relação privada, particular e individual com Deus, regrada pelos desejos e pela ética igualmente privada e particular de cada indivíduo. Os cânticos contemporâneos estão longe de dizer: “seja feita a sua vontade”; preferem determinar, declarar e ordenar o agir de Deus. O “pão de cada dia” deu lugar às riquezas e às ambições materialistas mais diversas. Aqueles que afrontam um cristão, a quem, segundo o evangelho, se deveria dedicar perdão e misericórdia; nos cânticos de gerra evangélicos, ganharam contornos de inimigos que precisam ser pisados, vencidos e envergonhados diante dos “Justos do Senhor”.


Receio que não haja nem espaço, nem tempo, e muito menos proveito, em ficar propalando as mazelas desta nova onda evangélica. Parece recalque, raivinha. Fico por aqui. Mas para resumir afirmo: o problema da adoração na igreja contemporânea, não está na forma (posto que o que importa a Deus é que se adore em Espírito e em Verdade); mas sim no conteúdo; na essência e na motivação da própria adoração. Um dia adorou-se ao grande “EU SOU”, hoje restou apenas o grande “EU”, o novo deus do pedaço.

Em Cristo, diante de quem todo joelho se dobrará.

Fabio Castro