quarta-feira, 28 de outubro de 2009

JESUS NO BAILE À FANTASIA


A pista estava bombando. A festa era à fantasia. Brancas de Neve, super-heróis, enfermeiras, piratas, sultões, bandidos mascarados e dragqueens se espalhavam pelo salão. Corpos sensuais agitando-se madrugada a dentro em busca de alguns instantes de prazer. Uma alegria que parece nascer do batidão do funk que treme o chão, das aventuras amorosas ilícitas, ou dos goles de vodka com limão.

As fantasias parecem mais revelar do que esconder; manifestam os desejos reprimidos das almas de cada um. Não precisam se esconder e nem se envergonhar dos pecados que fazem, pois, apesar de vestirem personagens diferentes, sabem que, suas vidas, são todas iguais. Quando o sol nascer, tudo voltará ao seu devido lugar. Nem máscaras, nem música, nem mágica.

Do outro lado do quarteirão os crentes oram. Uniformizados em seus ternos monocromáticos e nos vestidos longos beges e azuis. Tocam músicas que falam de Jesus. É como uma festa, mas chamam de culto, vigília, ou consagração...

Jesus caminha pela noite buscando um lugar onde possa pousar. Passando pelo primeiro salão ouve a música barulhenta e resolve entrar. Logo observa todas aquelas vidas bailando sob as luzes prateadas. Olhando os rostos mascarados percebe que a fumaça esconde todo tipo de sofrimento, solidão, tristeza e vazio. Constata que, por mais que tentem, não conseguem deixar de tropeçar, como quem anda de olhos vendados em meio a um vale pedregoso. Ele se compadece, mas resolve seguir o seu caminho.

Adiante ouve outra música barulhenta. Resolve entrar e leva um baita susto. Regressa à calçada e confere o letreiro da fachada. Sim! Era mesmo uma igreja; e tornou a entrar.

Ele se espantou porque descobriu que no culto também vestem fantasias. Os rostos trazem máscaras, as mais diversas. Por detrás das máscaras ele contempla casamentos fracassados, inveja, falsidade, amargura, fofoca, pornografia, adultério, mentira, etc.

Os ministros são tão hábeis quanto o DJ do baile à fantasia. Não podem deixar o ritmo da euforia ser interrompido. Precisam manter produção de endorfina, dopamina e noradrenalina em altas doses, capazes de superar as goladas de vodka gaseificada com limão e redbull.

Eles estavam tão entretidos quando Jesus entrou, que nem perceberam sua presença. Então ele foi ao palco e pediu a palavra, mas o ministro de música não lhe concedeu o microfone; e, quando conseguiu falar, Jesus não foi muito simpático (Não vou repetir o que ele disse, mas o evangelista Mateus registrou a conversa, lá no capítulo 23). Preferiu ir embora, pois torceram o nariz para ele.

Seguindo o som da música voltou ao lugar da primeira festa. Logo espalharam a notícia de que Jesus estava presente. E ele foi tratado como convidado de honra. Todos se admiravam da sua improvável e surpreendente presença, que foi alardeada pelos auto-falantes do salão. Quando ele pediu a palavra, todos fizeram silêncio, assentaram-se ao seu redor e ele contou apenas três histórias. Não vou repetí-las aqui, pois o evangelista Lucas registrou tudinho, lá no capítulo 15.

E Jesus preferiu passar a noite no baile à fantasia. Máscara por máscara, melhor aquelas que não mentem.


Fabio Castro
28/09/2009

Um comentário:

  1. Pastor Fabio você e sua esposa arrasaram na festa a fantasia.... rsssss.... Quanto ao texto Jesus no baile à fantasia muito bom , espero que muitos que irão ler ou leram este texto começem a perceberem qual a sua verdadeira máscara. Abraços e o seu blog e muito legal estou adorando ler, bem criativo prático e com leituras interessantes. Valeu fuiii

    ResponderExcluir