sexta-feira, 23 de outubro de 2009

APRISCOS SEM PASTORES




Como se faz um pastor?
Cada denominação evangélica tem seus próprios critérios. Alguns mais rígidos, outros, nem tanto. Certos pastores se auto proclamam assim, convencidos de sua vocação, e afim de abrir a sua própria igrejinha (no bom sentido, por favor). O movimento pentecostal e neo-pentecostal, nem sempre condiciona a ordenação de seus pastores a avaliações acadêmico-teológicas, ao contrário do movimento protestante histórico, que preserva um grau de exigência razoável sobre a formação e o preparo intelectual do candidato ao ministério pastoral.

A não-formação acadêmica de muitos pastores, não tem a ver apenas com a explosão evangélica das últimas duas décadas, ou com a má fé dos lobos que se travestem de pastores para arrancar das pobres viúvas até as moedas que elas já não tem. Existe um elemento histórico por detrás deste processo.

A Eclesiologia brasileira é predominantemente um produto norte-americano. E a expansão evangélica tupiniquim em muito se assemelha às orígens do protestantismo ianque. Na América, na medida em que os comboios colonizadores adentravam o continente rumo ao oeste, iam surgindo pequenas comunidades de famílias protestantes que passavam a demandar a organização de igrejas e, consequentemente, a ordenação de pastores. Acontece que era impossível que o envio de pastores formados nos seminários europeus fosse capaz de atender a esta demanda.

Logo foram surgindo igrejas cujos líderes tinham a ordenação e autoridade legitimadas pela própria comunidade que os gestava. Este processo fez nascer também uma eclesiologia e uma liturgia mais independentes das matrizes protestantes europeias.

Esta relativa autonomia teológica e litúrgica acabou gerando um ambiente extremamente propício ao "avivamento" pentecostal ocorrido no final do século XIX e início do século XX naquele país.

Voltando ao Brasil: O caminho é parecido (e ao mesmo tempo diferente). Esta quebra de critérios e a ruptura com o academicismo teve outras motivações cá debaixo da linha do equador. Se lá, no país que nos coloniz... (ops!), nos evangelizou, a "des-formação" pastoral se deu pela urgência e pela crescente demanda de igrejas emergentes; aqui a legitimação da informalidade pastoral baseou-se na afirmação teológica da suprema autoridade da unção divina sobre qualquer preparo "humano", ou seja, acadêmico.

Claro que a academia não faz um pastor, pois é da vocação pastoral que o ministro seja conhecedor dos mistérios de Cristo e não se valha da sabedoria humana para conduzir o povo de Deus. Longe de mim querer anular o mistério e desautorizar quem quer que seja que tenha sido levantado pelas mãos do Altíssimo. Mas não posso fechar os olhos para o que aí está.

Lá,na América, as ovelhas clamavam por pastores, e legitimavam aqueles que a elas serviam como tal. Aqui, produz-se os pastores para que produzam ovelhas, e atinjam as metas e projetos expansionistas das mais diversas denominações.

Sendo assim, apesar da produção em atacado de pastores, bispos, apóstolos, vice-deuses, etc; o que temos é uma grande multidão cansada e aflita, como ovelhas que, na prática, não têm pastor. Isso porque o povo é tratado como gado, como massa, como número e estatística. Temos "pastores de rebanho, mas não pastores de ovelhas" (essa frase não é minha, mas queria que fosse).

Beira ao constrangimento a admiração das pessoas quando a elas é dada a oportunidade de falarem dos seus problemas e serem (em vez de reprogramadas pelos jargões e pelas respostas prontas das cartilhas de auto-ajuda evangélicas) simplesmente ouvidas, acolhidas, compreendidas e cuidadas, na singularidade do seus dramas. Parece até que pregamos, cá pela nossa comunidade, um outro evangelho, um outro Cristo, uma outra graça. Mas que não é outra, é so o evangelho.

Para por um fim neste meu histerismo indignado, desejo pontuar apenas três coisas, caso você se interesse por ler este blog:

1. Sou do evangelho, mas sinceramente, não sou evangélico;

2. Sou presbiteriano, mas Cristo, o único a quem sirvo e pretendo me manter fiel, não é;

3. Não sou frustrado, recalcado, ou ressentido. Mas se eu destilar alguma amargura por aqui, é pra tentar preservar a pureza do meu coração e dizer a mim mesmo que não fui vencido.

Bem vindo ao aprisco.
Fabio Castro

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