Como se faz um pastor?
Cada denominação evangélica tem seus próprios critérios. Alguns mais rígidos, outros, nem tanto. Certos pastores se auto proclamam assim, convencidos de sua vocação, e afim de abrir a sua própria igrejinha (no bom sentido, por favor). O movimento pentecostal e neo-pentecostal, nem sempre condiciona a ordenação de seus pastores a avaliações acadêmico-teológicas, ao contrário do movimento protestante histórico, que preserva um grau de exigência razoável sobre a formação e o preparo intelectual do candidato ao ministério pastoral.
A não-formação acadêmica de muitos pastores, não tem a ver apenas com a explosão evangélica das últimas duas décadas, ou com a má fé dos lobos que se travestem de pastores para arrancar das pobres viúvas até as moedas que elas já não tem. Existe um elemento histórico por detrás deste processo.
A Eclesiologia brasileira é predominantemente um produto norte-americano. E a expansão evangélica tupiniquim em muito se assemelha às orígens do protestantismo ianque. Na América, na medida em que os comboios colonizadores adentravam o continente rumo ao oeste, iam surgindo pequenas comunidades de famílias protestantes que passavam a demandar a organização de igrejas e, consequentemente, a ordenação de pastores. Acontece que era impossível que o envio de pastores formados nos seminários europeus fosse capaz de atender a esta demanda.
Logo foram surgindo igrejas cujos líderes tinham a ordenação e autoridade legitimadas pela própria comunidade que os gestava. Este processo fez nascer também uma eclesiologia e uma liturgia mais independentes das matrizes protestantes europeias.
Esta relativa autonomia teológica e litúrgica acabou gerando um ambiente extremamente propício ao "avivamento" pentecostal ocorrido no final do século XIX e início do século XX naquele país.
Voltando ao Brasil: O caminho é parecido (e ao mesmo tempo diferente). Esta quebra de critérios e a ruptura com o academicismo teve outras motivações cá debaixo da linha do equador. Se lá, no país que nos coloniz... (ops!), nos evangelizou, a "des-formação" pastoral se deu pela urgência e pela crescente demanda de igrejas emergentes; aqui a legitimação da informalidade pastoral baseou-se na afirmação teológica da suprema autoridade da unção divina sobre qualquer preparo "humano", ou seja, acadêmico.
Claro que a academia não faz um pastor, pois é da vocação pastoral que o ministro seja conhecedor dos mistérios de Cristo e não se valha da sabedoria humana para conduzir o povo de Deus. Longe de mim querer anular o mistério e desautorizar quem quer que seja que tenha sido levantado pelas mãos do Altíssimo. Mas não posso fechar os olhos para o que aí está.
Lá,na América, as ovelhas clamavam por pastores, e legitimavam aqueles que a elas serviam como tal. Aqui, produz-se os pastores para que produzam ovelhas, e atinjam as metas e projetos expansionistas das mais diversas denominações.
Sendo assim, apesar da produção em atacado de pastores, bispos, apóstolos, vice-deuses, etc; o que temos é uma grande multidão cansada e aflita, como ovelhas que, na prática, não têm pastor. Isso porque o povo é tratado como gado, como massa, como número e estatística. Temos "pastores de rebanho, mas não pastores de ovelhas" (essa frase não é minha, mas queria que fosse).
Beira ao constrangimento a admiração das pessoas quando a elas é dada a oportunidade de falarem dos seus problemas e serem (em vez de reprogramadas pelos jargões e pelas respostas prontas das cartilhas de auto-ajuda evangélicas) simplesmente ouvidas, acolhidas, compreendidas e cuidadas, na singularidade do seus dramas. Parece até que pregamos, cá pela nossa comunidade, um outro evangelho, um outro Cristo, uma outra graça. Mas que não é outra, é so o evangelho.
Para por um fim neste meu histerismo indignado, desejo pontuar apenas três coisas, caso você se interesse por ler este blog:
1. Sou do evangelho, mas sinceramente, não sou evangélico;
2. Sou presbiteriano, mas Cristo, o único a quem sirvo e pretendo me manter fiel, não é;
Bem vindo ao aprisco.
Fabio Castro
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