sexta-feira, 23 de outubro de 2009

UM NOVO DEUS NO PEDAÇO

Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. (Rm 1:25)


“Não somos deste mundo!”. Esta afirmação, durante muitos anos, foi a frase predileta dos crentes. Com ela se justificava não só a abstnência evangélica a todo tipo de prazer “mundano”, como também o desapreço à cultura, à política e, em alguns casos, até à formação acadêmica. Ser crente era, sobretudo, desapegar-se da materialidade e romper com o mundo, em todos os sentidos.


Evidente que era um tempo de muito legalismo, tudo era proibido: música, dança, praia, futebol, short, maquiagem, festa, ou qualquer coisa que não fosse genuinamente feito em nome de Jesus. Vaidade era o pecado mais execrado nos sermões evangélicos; afinal de contas, tudo era vaidade.


Vide a música cristã. Nem todo ritmo e nem todo instrumento podia ser usado no culto; do solo de guitarra ao ritmo da bateria, quase tudo era do diabo, ainda que o mundo e sua plenitude fossem, desde sempre, criações de Deus.


Exageros à parte, aquele tempo legalista, com aquela música simples (as vezes de quinta categoria) vem despertando muita saudade em quem viveu o evangelho pré anos oitenta.


Começa a surgir uma crise protestante no Brasil. Esta crise de sentidos que ecoa nos arraiais evangélicos não parece ter tanto há ver com as mais diversas formas de expressão da igreja contemporânea; a discussão pesa, sobretudo, sobre o conteúdo. Lamenta-se, não pela invasão das guitarras, baterias, piercings, pranchas de surf e companhia limitada; lamenta-se predominantemente pela deturparção dos valores, da teologia e da própria consciência sobre Deus.


E, se existe, dentre todas as expressões do culto cristão, uma que mais transpareça esta subversão de valores, ela é, sem dúvida alguma, a adoração.


Diz-se que a teologia de uma igreja é conhecida por aquilo que ela canta, muito mais do que por aquilo que ela prega. Isto porque a forma individual com que um crente se relaciona com Deus é manifesta, inequivocadamente na sua expressão de adoração. Ali, na adoração, denuncia-se as intenções do coração.


Neste sentido, a música na igreja contemprorânea lamentavelmente revela com precisão o câncer materialista, individualista, egoista e utilitarista que se abateu sobre a mensagem evangélica desde a chegada da teologia da prosperidade no início da década de oitenta.


Percebe-se que o deus presente na adoração cristã não é mais o “Pai Nosso”, da oração que Jesus ensinou. Hoje cultua-se ao “Meu Pai”. Nasceu uma relação privada, particular e individual com Deus, regrada pelos desejos e pela ética igualmente privada e particular de cada indivíduo. Os cânticos contemporâneos estão longe de dizer: “seja feita a sua vontade”; preferem determinar, declarar e ordenar o agir de Deus. O “pão de cada dia” deu lugar às riquezas e às ambições materialistas mais diversas. Aqueles que afrontam um cristão, a quem, segundo o evangelho, se deveria dedicar perdão e misericórdia; nos cânticos de gerra evangélicos, ganharam contornos de inimigos que precisam ser pisados, vencidos e envergonhados diante dos “Justos do Senhor”.


Receio que não haja nem espaço, nem tempo, e muito menos proveito, em ficar propalando as mazelas desta nova onda evangélica. Parece recalque, raivinha. Fico por aqui. Mas para resumir afirmo: o problema da adoração na igreja contemporânea, não está na forma (posto que o que importa a Deus é que se adore em Espírito e em Verdade); mas sim no conteúdo; na essência e na motivação da própria adoração. Um dia adorou-se ao grande “EU SOU”, hoje restou apenas o grande “EU”, o novo deus do pedaço.

Em Cristo, diante de quem todo joelho se dobrará.

Fabio Castro



Um comentário:

  1. Querido pastor, é com muito entusiasmo venho aqui somente agradecer a sua dedicacao
    Que Deus abencoe
    abracos
    Elaine,Eduardo, Gustavo, Douglas, Junior

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