sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DONCOVIM?


“Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (Lc 9:54-56).

Minha avó materna, mineira e batista, foi quem jogou as primeiras sementes do evangelho em meu coraçãozinho pequenino ainda. A semente era batista, mas foi regada por águas pentecostais, cresceu em terras neopentecostais, reenxertou-se aos batistas no seminário teológico; depois aos metodistas, na faculdade de teologia; e por fim, floresceu presbiteriana, na IPJ.

Aqui estou eu, um mosaico evangélico. Apesar dos poucos 34 anos (é, eu não tenho 25 como você pensava) essa andança me oportunizou ler e ouvir as mais diversas mentes teológicas falando de Deus e em nome de Deus. Algumas coisas me alimentam a alma até hoje. Outras, eu bem que gostaria de vomitar pra sempre da minha lembrança; mas não só, gostaria mesmo era de pedir a Deus que mandasse fogo do céu para queimar certos autores junto com suas obras.

Não precisa me condenar pela intolerância, Jesus já fez isso nos versos citados acima. Na verdade Ele falava para Tiago e João, mas confesso que volta e meia me percebo no mesmo barquinho que os filhos do trovão. O barquinho dos sem-noção, que acham que Deus pensa como a gente pensa.

Um exemplo das coisas que desejo esquecer:

Já vi gente dizendo que os negros são originários de Caim. Sua cor seria a marca que Deus lançara sobre o filho de Adão para identificá-lo como o assassino de seu irmão Abel.

Como menino curioso, perguntei à tia da EBD, que me ensinava essa lição: “Mas se Noé e sua família eram descendentes de Sete, e não de Caim, como os negros sobreviveram ao dilúvio?” Ela me respondeu que isso fazia parte de uma outra história.

Então descobri um autor a dizer que os negros eram a descendência de Cão, o filho que foi amaldiçoado com servidão e humilhação por “abusar” da nudez do seu pai Noé. Ele, inclusive, se ocupou em demonstrar teorias migratórias, para provar que os filhos de Cão habitaram o continente africano. Quase acreditei, mas continuei “boladão” (é como adolescentes se sentem; adultos ficam apenas confusos). Minha dúvida persistia, porque não encontrei a resposta para a origem teológica dos olhos puxados dos japoneses, da pele vermelha dos índios, dos olhos azuis dos saxões e da pele morena dos polinésios. A teologia nunca se preocupou em encontrar uma maldição para explicar essas questões. Hoje quase chego à conclusão de que o teólogo que li devia, ele sim, ser filho de Cão, ou do Cão.

Fui percebendo que os teólogos adoram usar o nome de Deus para respaldar seus moralismos, sexismos, racismos, e todos os ismos preconceituosos que a sociedade construiu. Então deixei de procurar na Bíblia uma explicação para a cor da pele dos negros. Resolvi perguntar aos teólogos uma nova questão: “Onde está escrito que Deus criou o homem com pele branca? Não poderia ter sido Adão um belo negão?”

Bem, já deixei de ser adolescente há muito tempo, e ainda não achei na Bíblia de onde vieram os branquelos como eu. Como diriam os mineirinhos da terra de minha saudosa avó: doncovim, oncotô, proncovô?


Em Cristo, a origem, a razão e o destino de todos os homens e de todas as cores.

Fabio Castro

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